Estrutura, que abrigava cerca de 200 pessoas, foi danificada por temporal do último domingo.
Por definição, a missão do palhaço é arrancar sorrisos, é quase que uma lei para estes artistas. Caras, bocas, gestos e cores das roupas dão essência ao personagem que faz tudo parecer mais leve e parte de uma brincadeira sem fim, e com base nesta descrição é possível deduzir que é difícil esperar que ele fale sério quando está no picadeiro. Mas o Igor Hernandez da Silva Nogueira, 27 anos, ou “Fanikito”, conseguiu.
Com a urgência que a situação de risco, sem gerar pânico, Nogueira tentou de forma acertada a evacuação do Circo Fox, minutos antes que a estrutura desabasse por conta do temporal que atingiu Osório, no Litoral Norte, no domingo. Cerca de 200 pessoas estavam debaixo da cobertura de lona e seu gesto evitou uma tragédia. Apenas dez relatando algum tipo de escoriação.
“Falei no microfone para que as pessoas saíssem, devagar, até porque na hora que eu alertei, ainda não estava ventando. Chovia forte e eu percebi que o tempo poderia danificar a estrutura. Foi muito rápido, o vento arrancou a estrutura, dobrou o aço que nem papel”, recorda.
“Naquele momento, eles já estavam todos na beira da lona. Se não fosse isso, a estrutura de ferro realmente teria caído em cima deles, porque o que caiu em cima do público ali foi só a lona. Coisa de Deus eu ter pedido que saíssem a tempo”, entende o artista.

É uma vida inteira dedicada à arte circense. Além de dar vida ao palhaço Fanikito, Igor é trapezista, e faz parte da quinta geração de profissionais do ramo. Além de proporcionar espetáculos que oferecem lazer e descontração, a preocupação com a segurança é permanente, garante.
“A gente trabalha muito com o tempo, depende dele, então acaba conhecendo. Sempre que tem vento, avaliamos. Se é preciso, paramos, o pessoal sai e baixamos a estrutura, mas nunca aconteceu parecido com agora”, diz.
Recomeço
A trupe do Fox havia recém-chegado a Osório. A montagem começou na segunda-feira e foi concluída na quinta-feira. Foram duas noites de espetáculo até o domingo de tormenta.
Do espaço de apresentações que garante o sustento de 30 pessoas, pouco restou. Igor calcula que 80% foi inutilizado.
“As vigas de aço e os outros materiais são reforçados, mas simplesmente ficaram retorcidos. Não dá para aproveitar uma viga que dobrou, por questão de segurança”, afirma.
Para seguir trabalhando, o Circo Fox tenta alugar um salão no município. A ideia é realizar apresentações neste espaço até que seja possível adquirir uma estrutura nos moldes que foram perdidos.
“Conseguimos salvar metade da nossa cortina, e vamos trabalhar com uma caixa de som pequena, porque o nosso som está danificado. Vamos levar uma lanchonete para a frente do salão que a gente vai arrumar. E vamos trabalhar, não dá para parar”, reforça.
Compromisso com o riso
Natural do Paraná, Igor vestiu pela primeira vez uma roupa de palhaço quando tinha 5 anos. Nos 22 anos seguintes vivemos alegrias e tristezas expressadas por meio do Fanikito, que está no Rio Grande do Sul há sete anos.
“Teve uma vez… antes de entrar em cena eu recebi a notícia que a minha avó tinha falecido antes de eu entrar (em cena), mas eu entrei… eu ria e a lágrima caiu. Na verdade a gente trabalha pra criança, a nossa prioridade sempre vai ser a criança”, revela.
“O circo está passando por uma fase ruim, mas a gente passou uma fase ruim na pandemia, a gente passou em vários outros tempos. Por algum motivo do destino a gente desanimou, mas não parou, não tem como, os circenses têm o costume de dizer que enquanto existir uma criança, o circo jamais vai morrer. É um lema nosso! Então, nós temos muito tempo de serviço”, prometeu em nome da trupe.
Ó povo, obrigado!
Correio do Povo