Estado registrou dezenas de mortes em diferentes regiões nos últimos meses, além de destruição
Muçum foi um dos locais mais atingidos pela cheia no Vale do Taquari em setembro.
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Os últimos meses foram marcados por registros de enchentes históricas no Rio Grande do Sul.
O Estado tem sofrido com a chuva forte em todas as regiões, o que causa a elevação dos principais rios.
Ciclones extratropicais, granizo e vendaval foram outros fenômenos comuns no cenário recente de mortes e prejuízos materiais.
Em junho, uma das consequências da atuação de um ciclone causou 16 óbitos e destruição em diversos pontos do RS.
No início de setembro, devido à forte chuva, mais 50 mortes foram contabilizadas, em municípios atingidos pela cheia de rios, em especial do Vale do Taquari. No episódio mais recente de temporais no Estado, em novembro, cinco pessoas morreram.
Para especialistas, a situação pode ser explicada pela soma de múltiplos fatores: o ciclo natural do clima gaúcho, El Niño e as mudanças climáticas estão entre elas.
Por que choveu tanto no RS nos últimos meses?
Para os meteorologistas, o principal responsável pelo cenário de chuvas fortes é o El Niño. O fenômeno tem alterado o tempo em todo o mundo no segundo semestre deste ano. Em geral, a condição é capaz de agravar momentos de chuva e calor, por exemplo.
No Estado, que tem inverno chuvoso, a tendência é que o volume seja maior, cenário parecidos ao que ocorre na primavera. Já em locais onde as estações são mais quentes, o fenômeno eleva essa condição.
— O El Niño modifica o padrão do vento da atmosfera e faz com que as frentes frias se desloquem com velocidade reduzida. Isso faz com que a chuva seja mais duradoura — explica Eliana Klering, meteorologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ao se referir ao tempo no Estado no segundo semestre de 2023.
O El Niño é o único responsável pela chuva intensa no RS?
Segundo Henrique Repinaldo, meteorologista da UFPel, a resposta é não. O Estado tem histórico de inverno chuvoso, e o mesmo ocorre na primavera.
— É bastante comum para o Rio Grande do Sul uma primavera com tempestades, porque é quando massas de ar frio encontram um ambiente mais aquecido, indo em direção ao verão: o choque dessas massas produz bastante umidade que forma essas nuvens de tempestade. O El Niño é um componente a mais, que favorece que a região sul do Brasil tenha mais umidade.
O que é o El Niño?
É o aquecimento anormal da água do Oceano Pacífico Equatorial. O fenômeno faz parte de um ciclo natural do planeta e ocorre em intervalos que variam de dois a sete anos. O “oposto” do El Niño, ou seja, o resfriamento do Oceano Pacífico Equatorial, é chamado de La Niña.
Quando o El Niño deve terminar?
O boletim da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado no início do mês de novembro indica 90% de probabilidade de que esse fenômeno siga até abril de 2024. É também muito provável que “no seu pico, adquira valores correspondentes para um episódio intenso”, ou seja, poderá ser classificado como um “super” El Niño, a versão mais severa do fenômeno. O último desse tipo ocorreu em 2015/2016.
O aquecimento global é responsável pelo cenário climático?
As mudanças climáticas são em parte causadoras da situação vivida no RS e outras partes do mundo, segundo Francisco Eliseu Aquino, professor de climatologia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— O clima mudou, por isso observamos todos os tipos de eventos extremos mais intensos e frequentes em ambos os hemisférios. Como o planeta está mais quente, o aumento da precipitação não ocorre ao longo de vários dias: é intenso em poucos dias ou em poucas horas. A mudança climática favorece eventos extremos e o El Niño os alavanca — comenta.
Estudiosos têm cautela ao relacionar episódios severos como consequências apenas das mudanças climáticas: isso, porém, não significa que haja discordância sobre as alterações por conta da ação humana no clima do planeta, afirma Lincoln Alves, climatologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe):
— Já temos alguns estudos de atribuição que comprovam que, sem a mudança do clima, a intensidade dos eventos não teria a mesma magnitude. Temos exemplos disso envolvendo situações recentes em Pernambuco, Minas Gerais e enchentes na bacia do Rio Uruguai, no Rio Grande do Sul. Cerca de 90% das análises chegam a essa mesma conclusão.
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