Embora com nível mais baixo do que o registrado no domingo no Lami, permanência do vento Sul preocupa moradores.
Após iniciar nublada, a segunda-feira viu o sol dar as caras ao longo do dia, levando alívio aos gaúchos que viveram mais um final de semana de tensão pelas chuvas volumosas que atingiram o Estado.
Entretanto, apesar da chegada do sol, o forte vento Sul surgiu como a preocupação do momento, atuando como barreira contra a vazão do Guaíba, que se manteve represado e com inundações em áreas como os bairros Belém Novo e Lami, no Extremo Sul da de Porto Alegre.
No Belém Novo o nível elevado do Guaíba invadiu quase toda a faixa de areia da Praia do Veludo, deixando balanços e brinquedos da praça local submersos.
O frio na casa dos 10 °C e os ventos intensos espantavam frequentadores, restando apenas a passagem de carros e pessoas, que paravam brevemente para observar a cheia.
No Lami, o cenário é ainda mais dramático. A rua Beco do Pontal já se encontra totalmente alagada. O aposentado Valdivino Rodrigues França, 82 anos, está entre os últimos a resistir. “Começou a alagar a rua no domingo, por volta das 17h.
O último morador que permanecia ali saiu e foi para casa de parentes”, conta.
Embora não tenha ainda atingida a residência, a água que emerge do solo encharcado obrigou o aposentado a instalar uma bomba para retirar o excesso do pátio. Além disso, a preocupação faz França se organizar para uma eventual saída. “O carro está pronto com algumas coisas. A máquina de lavar nova está em cima do reboque, junto com duas bicicletas. O cachorro eu já levei para a minha filha”, disse.
O aposentado lembra que vizinhos muitos vizinhos não voltaram desde a enchente, que resultou na perda de praticamento todos os bens. Ele conta que pretende sair do bairro, mas que o alto preço dos imóveis dificulta a tomada de decisão.
Já na orla do Lami, o pescador e líder comunitário Lauri Goettems, que coordena o Barracão Amigos do Lami, se mantém na nova casa que precisou construir após as enchentes derrubarem sua antiga moradia. “Dessa vez ainda não tirei nada, mas levantei o que deu porque a minha residência é a última a entrar água. No ano passado eu não tirei e me compliquei, porque uma figueira parou dentro e derrubou o imóvel. Mas eu não vou sair daqui”, conta.
Pescador, ele já preparou cinco embarcações para caso seja necessário auxiliar os vizinhos a sair de casa.“Eu tenho meu galpão do outro lado e ajudei a retirar o pessoal no ano passado. Mantemos o grupo Amigos do Lami ativo até hoje, ajudando os moradores que necessitam com doações. O barracão também está pronto se alguém precisar levar algo para lá”, conclui.
Alagamento aumenta na avenida Guarujá
Na Zona Sul de Porto Alegre, o bairro Guarujá continua enfrentando dificuldades com o avanço das águas. Parte da avenida Guaíba teve aumento no alagamento, que já vinha sendo observado nas últimas semanas, durante o domingo.
Conforme moradores, embora o nível da água tenha diminuído ao longo da manhã, o trecho permanece intransitável e causa transtornos para quem vive nas proximidades. “Enquanto não mudar o vento, não vai descer. Ano passado foram 50 dias de ruas alagadas aqui e neste ano não sabemos como será. Hoje (segunda-feira) o pessoal está mais tranquilo, mas no final de semana todos estavam apreensivos”, conta.
A preocupação também se reflete na rotina de Marinês Dagostini do Couto, que mora na esquina da avenida Guarujá com a avenida Guaíba, um ponto que, por conta do Arroio Guarujá, convive com alagamentos. “Não dá para conviver com essa situação de sempre ter que sair de casa quando chove mais forte”, disse.
Marinês afirma que precisou sair novamente de casa na semana passada e que ainda não sabe quando poderá voltar. “Compramos um apartamento, mas não temos como vender a casa agora. Nem terminamos de reformar ainda”, pontua.
Em meio às incertezas, a solidariedade se mantém como apoio aos moradores. Após perder todos os móveis na enchente do ano passado, Gladis Bento transformou a antiga residência da mãe e da sogra na sede do grupo SOS Guarujá Moradores da Zona Sul. “Nesta semana estamos mandando muitas coisas para as ilhas, como mantas, colchões e roupas. Por mais que a gente esteja vivendo uma situação de aperto, a comunidade consegue ter empatia”, afirma. O grupo solidário é formado por mais de 150 pessoas
Conforme o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), os cenários de previsão indicam manutenção dos níveis elevados no Guaíba, acima dos 3 metros (na régua da Usina do Gasômetro) nos próximos dias. Elevações ocasionadas pelos ventos e pelas chuvas recentes na bacia hidrográfica podem aproximar os níveis da cota de inundação na Usina do Gasômetro (3,6 metros).








Correio do Povo