Especialistas há muito defendem que o exercício físico pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de demência.
No entanto, embora tenham observado um padrão geral de redução de risco, os estudos sobre o assunto foram pequenos, com pouco consenso sobre o tipo, a frequência e a intensidade dessa atividade.
“Não existe uma receita clara que possamos fornecer para a atividade física”, diz Joel Salinas, professor de neurologia da Universidade de Nova York e médico especializado no tratamento de pessoas com demência.
Mas três estudos de longo prazo divulgados nos últimos meses oferecem mais informações sobre como obter maior proteção contra a demência e confirmam que a atividade física regular, em muitas formas, desempenha um papel considerável na diminuição do risco de demência.
O exercício vigoroso parece ser o melhor, mas mesmo atividades não tradicionais, como realizar tarefas domésticas, pode oferecer um benefício significativo. E, surpreendentemente, são eficazes na redução do risco até em pessoas com histórico familiar de demência.
Qualquer atividade
No primeiro estudo, publicado em julho na revista Neurology, os pesquisadores analisaram informações sobre a saúde de 501.376 participantes que não sofriam de demência no banco de dados britânico UK Biobank. Uma das principais vantagens desse banco é que ele tinha “dados muito enriquecidos sobre a genética” dos participantes, diz um um dos autores do estudo, Huan Song, pesquisador do Hospital da China Ocidental, Universidade de Sichuan. Isso incluiu um perfil de risco dos participantes com base em se eles tinham variantes genéticas conhecidas.
Os participantes preencheram questionários detalhados sobre suas atividades físicas, desde praticar esportes, subir escadas ou caminhar, até a frequência com que realizavam tarefas domésticas. Uma das principais limitações de estudos anteriores foi que “a definição de atividade física é bastante fraca”, diz Song.
Os participantes foram acompanhados por 11 anos. Durante esse tempo 5.185 desenvolveram demência. O estudo descobriu que, em participantes que praticavam atividades regulares e vigorosas, como fazer esportes ou malhar, o risco de desenvolver demência foi reduzido em 35%. Surpreendentemente, as pessoas que disseram realizar regularmente tarefas domésticas também experimentaram um benefício significativo: um risco 21% menor.
Por toda a vida
O segundo artigo, publicado na última semana na Neurology, compilou 38 estudos para ver quais atividades de lazer estavam associadas à redução do risco de demência. Ao todo, os estudos acompanharam mais de 2 milhões de participantes sem demência durante pelo menos três anos, durante os quais 74.700 desenvolveram a doença.
Depois de analisar idade, educação e sexo, os pesquisadores descobriram que os participantes que caminhavam, corriam, nadavam, dançavam, praticavam esportes ou treinavam na academia de forma regular tinham um risco 17% menor de desenvolver demência em comparação com aqueles que não praticavam exercícios.
Esta meta-análise mostra que a prevenção da demência não se limita a um tipo de atividade. Dada a diversidade de atividades físicas em que os participantes se envolveram, “recomendamos às pessoas fazer o exercício que gostam”, diz um dos autores do estudo, Le Shi, pesquisador da Universidade de Pequim.
Quando se trata de colher os benefícios, nunca é cedo demais para começar: em um terceiro estudo publicado este mês, os pesquisadores acompanharam mais de 1.200 crianças, entre 7 e 15 anos, por mais de 30 anos.
Aquelas com níveis mais altos de condicionamento físico, quando crianças, apresentaram níveis mais altos de funcionamento cognitivo na meia-idade, sugerindo que estabelecer um hábito de atividade física ao longo da vida pode ser benéfico para a saúde do cérebro.
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