A definição se o Guaíba é um lago ou rio é tema de muitos debates. O corpo hídrico, que passou de 5 metros de altura em Porto Alegre por conta das chuvas, é oficialmente reconhecido como lago pelo governo gaúcho, mas ora é chamado de uma forma, ora de outra pela população do Estado.
“As definições de rio e lago são muito claras. O rio é uma calha em que um lado é mais elevado que o outro, onde a água escorre pela gravidade. Já no lago a superfície tem todo o mesmo nível e a água não escoa por gravidade. Se ele enche, pode escoar por transbordamento. Então, o Guaíba tem todas as características de um lago”, explica Rualdo Menegat, professor-titular no Instituto de Geociências da UFRGS e Coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre.
Encontro de rios
A palavra Guaíba já designa o que é o local: “encontro das águas”. O nome é de origem tupi guarani, segundo professor Rualdo Menegat. Ele é um receptor de quatro rios importantes do Estado: Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí.
“Essas características fazem que o Guaíba seja um lugar de estacionamento e quando enche, ele transborda e as águas fluem para a Laguna dos Patos, que também pode transbordar, e para o oceano Atlântico. Mas se há uma ‘maré de tempestade’, como agora, com o nível do oceano transbordado, a desembocadura da Laguna dos Patos não tem evasão, então as águas ficam todas retidas”, diz Menegat.
Geógrafos destituíram o título de “rio” ao Guaíba nos anos 1950. Um artigo sobre o tema publicado no IHGRGS (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul) descreve que em 1958 uma assembleia da “Associação de Geógrafos Brasileiros”, ao estudar a questão, definiu que o Guaíba não tinha características de rio. O texto diz que “a designação de rio dada ao Guaíba pertence principalmente ao domínio popular.”
Tentativa de definição vem da época da colonização. “Desde essa época, o Guaíba foi designado de rio. Mas, quando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire faz uma viagem pelo rio Jacuí e entra de barco no Guaíba, ele corrige a informação: era um lago”, explica o professor Menegat.
O governo certificou o Guaíba como lago em 1982. A canetada veio por meio de documentos oficiais e orientações escolares: o Guaíba deveria ser chamado de lago.
A confusão pode se dar pela construção da cidade. Como Porto Alegre se desenvolveu nas margens dos canais, há a percepção de que eles possam ser rios – o que levaria ao Guaíba a tal definição.
Preservação
A definição de rio e lago diferencia a maneira da gestão ambiental que deve ser feita no Guaíba.
“Considerar que ele é lago também é entender que aquelas águas ficam paradas, diferentemente de um rio. Além disso, sabemos que o leito dele é argiloso, diferentemente de um rio, que é arenoso. Assim, ele pode acumular mais contaminantes de uma metrópole.
A gestão ambiental desse manancial é estratégica para região metropolitana. E isso então depende da definição desse corpo d’água. Nos precisamos para melhorar a gestão desse corpo d’água que é o destino de Porto Alegre. O que acontecer com ele vai acontecer com Porto Alegre”, declara Menegat.
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