Estudos técnicos e científicos se mostraram pouco utilizados para evitar a tragédia.
A crise ambiental que se abateu sobre o Rio Grande do Sul no mês de maio trouxe à tona a discussão sobre os estudos técnicos e científicos que já alertavam sobre as possibilidades de inundações no Estado.
De importância indiscutível, os estudos se mostraram pouco utilizados para evitar a tragédia, segundo pontuam especialistas, que reforçam a necessidade de tornar a educação ambiental política permanente na sociedade, das escolas aos gabinetes de decisão.
O Plano de Proteção contra Cheias, por exemplo, foi entregue em 2018 pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) a prefeitos gaúchos, que já apontava riscos e soluções para as cheias da Bacia do Rio Gravataí, da Bacia do Rio dos Sinos, da Sub-bacia do Arroio Feijó e do Delta do Jacuí.
Antes disso, diversas pesquisas produzidas nas universidades gaúchas contemplavam os efeitos das mudanças climáticas no território brasileiro, apontando para o aumento das precipitações na região Sul.
Nesse contexto, em ocasião do dia do geógrafo, no último dia 29 de maio, a Sociedade Brasileira de Geologia promoveu uma aula aberta no seu canal do Youtube abordando as particularidades da crise no território gaúcho.
Na exposição do geólogo e professor da UFRGS, Rualdo Menegat, fica claro o potencial catastrófico causado pela ocupação urbana em diversas regiões de vales e cânions do Estado, como é o caso do município de Roca Sales, localizado logo abaixo de um ponto de confluência do Rio Jacuí.
Um dos autores do Atlas Ambiental de Porto Alegre, obra considerada o mais completo acervo de dados de um município no mundo, Menegat alerta para a importância das ações de educação ambiental nas escolas e também para os programas preventivos de Defesa Civil, que atuam na educação das populações de áreas de risco para mitigação de impactos sociais e atuação adequada em caso de emergência.
Nesse sentido, é importante trabalhar com os estudantes da educação básica as particularidades do território, com metodologias que sejam diretamente associadas ao ambiente local das comunidades em que os alunos estão inseridos.
Uma metodologia eficaz, segundo Menegat, é a utilização de imagens aéreas e a construção de mapas e maquetes pelos próprios alunos, para que eles reflitam sobre o próprio espaço, reconhecendo a geografia local, possíveis riscos e ações de proteção socioambiental.
Segundo Menegat, a atual crise do Rio Grande do Sul tem características hidrogeoclimáticas e socioambientais. O Atlas Ambiental de Porto Alegre, por exemplo, reúne todas estas características da Capital.
O próprio material foi montado com base em dados fornecidos por técnicos da prefeitura. Este conhecimento, porém, não chegou a ser utilizado como base para elaborar medidas de prevenção e manejo dos impactos das mudanças climáticas no município, pontua o especialista.
Correio do Povo