Espaço usado para receber turistas nas décadas de 70 e 80, virou lugar de consumo de droga e depósito de entulhos.
Ícones de uma época em que o Rio Grande do Sul se abria para o turismo, os terminais de Tramandaí e de Cidreira hoje restam como boas lembranças às centenas de pessoas que excursionaram pelo litoral Norte entre as décadas de 1970 e 1990. E para outra parcela da população, veranistas e moradores destas duas tradicionais praias gaúchas, o que sobrou das estruturas representa apenas preocupação e desgosto.
As irmãs Marta e Marília Barreto deixaram o bairro Restinga, em Porto Alegre, para terem uma vida mais tranquila em Cidreira no início deste ano. Mas a casa comprada próxima do Terminal Turístico, que já foi símbolo da praia, atualmente causa desconforto às duas.
“Não dá para aturar tanto lixo, é um depósito de porcarias”, protesta Marília.
O espaço para recepção de turistas projetado no fim da década de 1970 e que viveu o auge na década seguinte, hoje não passa de ruínas. As lajes da cobertura desabaram, e as que resistem ameaçam cair. Ainda assim, as paredes e coberturas, que teimam continuar em pé, abrigam moradores de rua e são frequentemente utilizados para consumo de drogas.
“Eu não sinto segurança nenhuma em andar por aqui. Nunca vi relato de assalto, mas a gente vê gente usando droga lá atrás das paredes”, lamenta Marta.
Há 18 anos o comerciante José Daniel Carvalho resolveu apostar em uma nova atividade. Investiu todo o dinheiro disponível e comprou um bar na rua Santa Fé, em Tramandaí. Mas a esperança de uma vida melhor jamais se concretizou. A aposta no comércio vinha da localização estratégica do estabelecimento, bem em frente ao terminal turístico de Tramandaí.
“Todo o comércio da volta dependia do terminal, não por acaso o nome deste bairro é Terminal Turístico”, conta.
Conforme recorda José, aproximadamente 35 ônibus com excursões de diferentes lugares do Estado e de Santa Catarina tinham o paradouro como referência.
Centenas de pessoas usavam a estrutura, que contava com banheiros, boxes de estacionamento e espaços para descanso.
O prédio, com projeto concebido na década de 1970, sofreu com a ação do tempo e acabou abandonado. Já nas décadas seguintes, foi se transformando em um prédio em ruínas, até ser demolido há 11 anos.
De lá para cá, a luta da comunidade passou a ser outra, maior até que a sobrevivência econômica. Após a estrutura ser desmantelada, os escombros ficaram empilhados no próprio terreno do terminal, onde permanecem até hoje.
“Não vendo mais que 10 xis em um fim de semana, a bebida que comprei para o verão está encalhada no freezer. E na porta da minha casa tenho um monte de escombros de onde saem ratos, baratas e outros tipos de bichos”, reclama o comerciante.
Parte do terreno do antigo terminal atualmente está ocupado de forma irregular por moradias, e somado ao fato de que a prefeitura realocou as excursões para uma praça em outro ponto da cidade, esta parte importante da memória dos veraneios de Tramandaí tende a desaparecer por completo no dia em que os escombros forem destinados à reciclagem.
O que dizem as prefeituras
O Correio do povo fez contato com a comunicação e com a Secretaria de Turismo e a assessoria de comunicação de Tramandaí e com a Prefeitura de Cidreira a respeito da situação atual das áreas dos antigos terminais e projeção de futuro.
Contudo, até o fechamento desta edição, não houve retorno.
Correio do Povo