O navio, com 57 cientistas atracou no Porto na manhã desta sexta-feira.
Terminou na manhã desta sexta-feira a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica (ICCE).. A missão que percorreu mais de 27,1 mil quilômetros ao redor da costa antártica atracou no Porto do Rio Grande por volta das 8h30min da manhã, após 69 dias de viagem, a bordo do navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica, localizado em São Petersburgo, na Rússia.
A expedição é considerada uma das mais ambiciosas missões científicas já realizadas no continente gelado, marcou um pioneirismo ao ser realizada o mais próximo possível da costa. A iniciativa foi coordenada pelo pesquisador e explorador polar do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Cardia Simões. Foram reunidos 57 cientistas de sete países (Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia). Dos brasileiros, 27 são vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).
A iniciativa foi 97% financiada pela fundação suíça Albédo Pour la Cryosphère, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
Simões acredita que a Circum-Navegação Internacional Costeira da Antárctica marcou uma nova fase das comunidades científicas brasileiras nas regiões polares. “O programa multidisciplinar com 57 cientistas de sete países liderados por brasileiros mostra o nosso protagonismo nos fóruns internacionais antárticos”, opina.
Para ele , o crescimento da presença brasileira, em destaque a gaúcha, a cooperação internacional encontram o conceito de diplomacia da ciência,que é usá-la para melhorar as relações internacionais, tentar resolver problemas comuns, investigações comuns e dividir recursos. “Isso é essencial principalmente em momento de crise econômica, de restrições de custos aos diferentes programas antárticos. “No caso específico esta missão saiu cerca de £ 6 milhões, o que é mais do que o programa antártico brasileiro investe para toda a ciência em quatro anos. Não teríamos como realizá-la tal missão, se não tivéssemos batido às portas da comunidade internacional”, justifica.
A missão recebeu doação da fundação localizada no exterior, que segundo o pesquisador proveu em torno de 99% dos recursos necessários. “O Brasil entrou com muito pouco diretamente, a não ser os salários de pesquisador de universidades federais”, observa. Ele acredita que isto ocorreu por causa do histórico do Programa Antártico Brasileiro, que não pode deixar de ser valorizado, a sua constância apesar de altos e baixos. “ Foi uma maneira eficiente e criativa de ampliar as atividades brasileiras na região antártica é algo que se tornará cada vez mais importante, no caso nas duas regiões polares.
Nossa missão explorou novas áreas do ponto de vista brasileiro”, comenta. De acordo com o pesquisador, cientistas brasileiros nunca tinham feito uma participação na Antártica Oriental. “Foi uma nova missão que mostra que a comunidade científica brasileira tem uma capacidade de organizar não só cientificamente, mas logisticamente suas missões”, observa.
A liderança brasileira foi central para o sucesso da expedição. Simões é delegado do Brasil no Comitê Científico para Pesquisa Antártica (SCAR). Ele destacou o papel da ciência como ferramenta estratégica para a diplomacia brasileira e para o enfrentamento das mudanças climáticas.
O projeto contou com pesquisadores de instituições além UFRGS, como Universidade Federal do Rio Grande (FURG),Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB), e as também universidades federais de Pernambuco (UFPE), do Maranhão (UFMA), de Minas Gerais(UFMG), Fluminense (UFF), do Paraná (UFPR) e de Viçosa (UFV), consolidando a cooperação entre universidades brasileiras.
Os trabalhos científicos realizados incluíram a soltura de 43 balões atmosféricos equipados com radiossondas, que coletaram dados sobre pressão, temperatura, ventos e composição da atmosfera, que são essenciais para compreender fenômenos climáticos como frentes frias e ciclones extratropicais.
Além disso, foram realizadas coletas de materiais para pesquisa em 19 estações oceanográficas (com o navio parado, quatro locais de solos e lagos costeiros e cinco paradas para coletas de testemunhos de gelo. Amostragens de solos, água do mar, neve também foram feitas, com análises microbiológicas e estudos de biodiversidade costeira.
“ A expedição nos permitiu coletar dados inéditos sobre as mudanças climáticas e ampliar nossa compreensão sobre os ecossistemas costeiros antárticos e os seus efeitos diretos no sul global”, conclui o pesquisador.
Correio do Povo