Mais de 700 mil pessoas perdem a vida para o suicídio a cada ano no mundo inteiro, segundo a OMS.
Mais de 700 mil pessoas perdem a vida para o suicídio a cada ano no mundo inteiro, sendo que 77% dos casos acontecem em países de média ou baixa renda. Esses números são maiores que os óbitos por HIV, malária, câncer de mama, guerras e até homicídios, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Um dos grandes desafios Conselho Federal de Medicina (CFM) é quebrar os tabus e reduzir estigmas para que as pessoas busquem e ofereçam ajuda. Contudo, o médico psiquiatra Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti, 1º vice-presidente do CFM, alerta para a necessidade de identificar o quanto antes doenças mentais.
Cavalcanti afirma que o CFM orienta-se pelos princípios iniciais da medicina nas questões da saúde mental: diagnóstico nosológico (diagnóstico da doença e sua gênese) e prescrições terapêuticas (medicamentosas, psicoterápicas ou institucionais). “A abordagem de doenças mentais requer avaliação médica, sem invalidar a participação de outras profissões como psicologia e terapia ocupacional”, explica.
Ele chama a atenção para o diagnóstico precoce de doenças mentais.
“É fundamental, pois quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maior a possibilidade de ajuda efetiva e de evitar desfechos mais graves. A demora no tratamento pode levar à perda de confiança e segurança na capacidade de resolver problemas e tomar decisões”, pontua.
O médico psiquiatra também esclarece que é importante a população ter entendimento de que muitos dos medicamentos nesses casos não têm efeito imediato. “Muitos medicamentos psiquiátricos levam entre cinco e 30 dias para surtir efeito”, explica. “É importante a parceria com a família para o acompanhamento do paciente, incluindo a monitorização da ingestão da medicação”, completa.
Ele afirma, contudo, que é papel dos médicos fazerem essa conscientização nos pacientes e familiares, que muitas vezes procuram a solução imediata “cessar a dor em quadros depressivos”, para não os desencorajar em relação ao tratamento prescrito.
Ainda em relação ao diagnóstico precoce, o CFM destaca que “médicos de diversas especialidades, como clínicos gerais, cardiologistas e neurologistas, devem estar atentos a manifestações precoces de doenças mentais para iniciar tratamentos ou encaminhar pacientes a especialistas”.
Vale ressaltar que situações que envolvem o suicídio podem ter diferentes fatores, como as doenças mentais. Porém, o diagnóstico é necessário para que o médico psiquiatra encaminhe o tratamento mais adequado para aumentar os fatores de proteção e diminuir os riscos.
Setembro amarelo e a terapia no ChatGPT
O médico psiquiatra também enfatiza que a campanha Setembro Amarelo “visa conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce”. Cavalcanti destaca que “o CFM e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estimulam o aprendizado sobre manifestações precoces de doenças mentais para que médicos possam iniciar tratamentos ou encaminhar pacientes a especialistas.”
O 1º vice-presidente do CFM também alertou para o uso inadequado de ferramentas como o ChatGPT para diagnósticos e tratamentos psicológicos, enfatizando a importância da relação humana no cuidado médico. Contudo, para o psiquiatra esse comportamento é “um modismo” e valorizou a relação humana entre pacientes e profissionais.
“Olha, isso são os modismos quando o Google lançou a plataforma, foi um um ‘boom’. As pessoas já chegavam lá (consultório) com a percepção diagnóstica, não somente para doenças mentais, mas para qualquer outras doenças e isso foi desaparecendo porque o elemento e a relação, é quem vai permear primeiro a confiabilidade na abordagem. A máquina, ela jamais vai ter um contorno humano”, opina Cavalcanti.
Sobre outros tipos de ajuda, como o serviço prestado pelo Centro de Valorização à Vida (CVV), que é por meio de voluntários que muitas vezes não possuem formação médica ou na área da psicologia, Cavalcanti disse que o CFM reconhece a importância da iniciativa, mas destaca que a mesma “não substitui a intervenção médica quando necessário”.
Adriana, voluntária do CVV, e que pode ter só o primeiro nome divulgado, garante que no treinamento os voluntários são orientados a sugerir para que as pessoas busquem pelo tratamento adequado e ajuda médica, destacando serviços oferecidos pelo SUS e Caps, por exemplo.
Mortes no Brasil
Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, mostram que em uma década os suicídios aumentaram 43% no Brasil. Em 2010, eram 9.454 e em 2019 subiu para 13.523.
O levantamento indica que entre os adolescentes o aumento foi de 81%, indo de 3,5 suicídios por 100 mil adolescentes para 6,4.
No ano de 2021, 15.507 suicídios foram notificados no Brasil, representando a segunda principal causa de mortes entre adolescentes de 15 a 19 anos e a quarta principal entre jovens de 20 a 29 anos.
A taxa de suicídio entre homens no Brasil é três vezes maior que a de mulheres. Entre homens, a taxa de suicídio aumenta progressivamente com a idade, atingindo seu pico nos idosos com mais de 70 anos. Já entre as mulheres, observa-se risco mais elevado nas adolescentes de 15 a 19 anos.
Outro dado informado pela pasta é que a taxa de suicídio entre indígenas no país é três vezes maior que a da população geral.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, os estados brasileiros com as maiores taxas de suicídio, em 2021 foram Rio Grande do Sul, Piauí, Mato Grosso do Sul, Roraima, Santa Catarina e Tocantins.
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