Cidade gaúcha cria o Tacuapi, moeda digital própria para usar no comércio local

Expectativa é que, com a adesão da população, pagamentos como auxílios do governo possam ser feitos pela Tacuapi. Marcelo Camargo / Agência Brasil

Iniciativa de Palmeira das Missões deve entrar em circulação no fim de 2024.

Objetivo é fazer com que as riquezas geradas pela agricultura e varejo permaneçam no município.

Com 33,2 mil habitantes, Palmeira das Missões, no noroeste gaúcho, criou uma alternativa para incentivar a circulação de dinheiro dentro do município: é o Tacuapi, sua própria moeda digital que só vale dentro dos limites da cidade.

No tupi-guarani, tacuapi é uma referência à primeira bomba de chimarrão utilizada pelos indígenas. O nome foi escolhido para homenagear a história da cidade, que teve sua fundação atrelada ao comércio de erva-mate.

Para usar a moeda, é preciso ter uma conta digital pré-paga no Banco Municipal Popular de Palmeira das Missões — também criado através da lei nº 6.214/2024.

Um Tacuapi equivale a R$ 1 e pode ser convertido para o real — ou seja, não é como uma criptomoeda, cuja cotação é atrelada à demanda e à oferta, mas como uma moeda digital que equivale ao dinheiro em circulação no país.

“Essa moeda complementa o Real e cria um mercado solidário e alternativo entre prestadores de serviços e consumidores locais”, diz o texto da lei.

 

Quais os planos do município

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Moeda fará com que o dinheiro gerado na cidade permaneça em Palmeira das Missões. MPRS / Divulgação

A iniciativa de criar uma moeda digital própria foi proposta pela prefeitura, aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada em 31 de julho. A expectativa é que, com a adesão da população, pagamentos como auxílios do governo possam ser feitos na nova moeda.

— Para o uso dentro na cidade, podemos, por exemplo, pagar os funcionários municipais em moeda social, assim como receber os benefícios dessa forma. Tudo, claro, ainda será estudado e decidido — disse o prefeito Evandro Massing.

Agora, a prefeitura desenvolve um cronograma de atividades, que inclui a contratação da empresa para operacionalizar o banco e a moeda digital. A estimativa é que a moeda possa operar na cidade entre o fim de 2024 e início de 2025.

— Queremos, dentro desse prazo, já usar a moeda em algumas políticas públicas da cidade. Entendemos que será um projeto de médio e longo prazo até as pessoas entenderem a credibilidade do Tacuapi — pontuou o prefeito.

Comércio conta com a aceitação do público
Com uma economia quase que totalmente baseada na agricultura, varejo e administração pública, Palmeira das Missões pode demorar para aderir ao projeto inovador. Moedas digitais são uma tecnologia nova e tendência em todo o mundo, mas ainda parecem distantes da pequena cidade do noroeste gaúcho.

Por isso, o comércio aposta na popularidade do Tacuapi para cair no gosto da população e pavimentar a adesão na cidade, disse Renato Dalberto, presidente da Associação Comercial Agro-Industrial e Serviços (Acaip).

— É algo inovador e talvez enfrente alguma dificuldade para a comunidade “abraçar”. Talvez leve algum tempo, mas temos exemplos de cidades pelo Brasil que já instituíram a moeda e tem faturamentos valiosos para os municípios, então aqui não será diferente — disse.

Um dos exemplos é Santiago, na Região Central, que não tem apenas uma, mas duas moedas digitais: o Pila Azul e o Pila Verde. Em ambos os casos a moeda é gerada a partir de ações de preservação do meio ambiente.

Em Palmeira das Missões, um dos pontos positivos levantados por Dalberto é que, por ser usada apenas no território municipal, a moeda fará com que o dinheiro gerado na cidade permaneça na cidade.

— Nós do comércio sempre falamos que o recurso gerado aqui é gasto fora, e essa seria uma forma de ficar. Se todos os comerciantes aderirem pode ser uma virada de chave na cidade, mas vai depender desse convencimento — afirmou.

A riqueza gerada dentro do município é um dos pontos altos do projeto, como aponta o doutor em Economia e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Zilli. Porém, sua eficácia vai depender de fatores que serão perceptíveis durante sua implementação.

— Pode ser que haja dificuldade pra grupos com menos acesso a tecnologia, por exemplo. Também é preciso ver como será a segurança para evitar fraudes. Portanto, a eficácia vai depender da implementação, da implementação correta e do gerenciamento — analisa o economista.

 

gauchazh.clicrbs.com.br

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