Passar longas horas diante do computador, carregar peso excessivo ou realizar os mesmos movimentos repetidamente ao longo do dia pode parecer inofensivo a princípio, mas com o tempo, essas práticas podem levar a sérios problemas de saúde.
As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são exemplos claros de como a rotina profissional pode impactar o corpo, resultando em dores persistentes e afastamentos.
Para alertar sobre a importância da prevenção, o Dia Mundial de Combate à LER/DORT, em 28 de fevereiro, reforça a necessidade de cuidados para evitar essas condições.
As LER e os DORT estão entre as principais causas de afastamento de trabalhadores no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Esses problemas surgem do uso excessivo do sistema musculoesquelético sem o devido descanso, além de posturas inadequadas e movimentos repetitivos que afetam músculos, nervos e tendões.
Um estudo divulgado em 2023 pela Revista de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) revelou que o Brasil registrou 46.307 casos de LER/DORT, com um aumento significativo nesse ano.
Os homens representaram 53,13% dos casos, enquanto as mulheres somaram 46,87%. Entre 2018 e 2022, foram notificadas 34.345 ocorrências, das quais 53,6% envolviam mulheres. A faixa etária mais afetada foi a de 35 a 49 anos, com 47,5% dos registros.
Os problemas mais comuns incluem tendinites em ombros, cotovelos e punhos, dores na região lombar e desconfortos musculares em diversas partes do corpo.
A docente do curso Técnico em Segurança do Trabalho da Escola Técnica da Fundatec (ETF), Sílvia Ferrazzo, esclarece que fatores como longos períodos de digitação sem pausas, sobrecarga estática, aplicação excessiva de força e ambientes inadequados contribuem para o desenvolvimento dessas condições. “Locais de trabalho com piso irregular, barulho excessivo, temperatura inadequada e ventilação deficiente também favorecem o surgimento de distúrbios osteomusculares”, ressalta.
Os setores mais afetados pelas LER/DORT incluem indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos.
Os sintomas, que vão além da dor, podem envolver fadiga, formigamento, sensação de peso, limitação funcional e impacto nas atividades diárias, tanto no trabalho quanto fora dele, com repercussões psicológicas.
O tratamento exige uma abordagem multidisciplinar, com afastamento das atividades, uso de anti-inflamatórios, fisioterapia, acupuntura e suporte psicoterapêutico, dependendo da gravidade do quadro. No entanto, a prevenção é a melhor estratégia.
A Norma Regulamentadora 17 estabelece diretrizes de ergonomia para garantir que o ambiente de trabalho seja adequado às condições físicas e mentais dos trabalhadores.
“Respeitar os limites do corpo e proporcionar um ambiente de trabalho organizado são medidas fundamentais para evitar o desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléticos”, enfatiza Silvia.
Medidas simples, como ginástica laboral, exercícios de relaxamento, alongamentos e pausas regulares durante a jornada de trabalho, têm um impacto significativo na promoção da saúde e na qualidade de vida dos trabalhadores.