Corpo de Bombeiros já registrou mais de 18 mil ocorrências desde o final de dezembro, contra 5,1 mil no começo da temporada anterior.
Desde o começo da temporada de verão, o mar do litoral norte gaúcho está atipicamente limpo e convidativo para um banho, longe do conhecido “chocolatão”.
No entanto, alguns perigos estão escondidos, porém seus efeitos já são sentidos na população. As águas-vivas causam transtornos, temor e um número recorde de ocorrências de queimaduras nesta largada do veraneio na região.
De acordo com dados da Operação Verão Total, do Corpo de Bombeiros Militar do RS (CBMRS), de 20 de dezembro de 2024 até a última quinta-feira, foram registradas 18.388 lesões por águas-vivas em todas as praias do RS, incluindo litorais norte e sul. O número é 256,8% maior do que no mesmo período da temporada anterior, quando houve 5.153 ocorrências do tipo.
Comparando apenas o Litoral Norte, já houve, neste verão, 17.835 lesões, contra 4.888 em 2023/2024, crescimento de 264,8%. No Litoral Sul, mais 108,6%, ou 553 contra 265. Não é difícil caminhar pela areia e encontrar unidades ou grupos delas mortas, requerendo cuidado ainda maior. “Na realidade, enxergamos apenas 1% das águas vivas na superfície da água. 90% delas são inofensivas, mas os 10% restantes liberam um toxina que podem causar ardência”, salientou o coordenador da Operação Verão Total, major Daniel Moreno.
“Porém, isto não pode ser motivo para a pessoa não entrar na água”, salientou ele, reforçando que o mar é seguro, contanto que a entrada ocorra próxima às guaritas dos guarda-vidas. Apesar dos altos números, apenas uma pequena fração dos casos escala para uma gravidade maior, e, de forma geral, os sintomas mais comuns são alergias locais. Em Capão da Canoa, por exemplo, apenas em um trecho de areia de cerca de 40 metros quadrados, a reportagem contabilizou nesta semana mais de 20 animais. A técnica em saúde bucal Pâmela Flores, moradora de Porto Alegre, que veraneia em Capão, contou estar preocupada com a quantidade delas na orla.
“A gente tem criança, e na hora em que elas vão para a água precisamos ficar de olho. As águas-vivas são muito grandes. Como dizer para quem tem transtorno do espectro autista (TEA) que não se pode chegar perto delas?”, questionou ela. “Uma caravela já pegou minha filha, e ela ficou acho que mais de cinco horas chorando. Tivemos de tirar as perninhas da água-viva dela, porque grudaram. Não sabíamos o que fazer”. De acordo com Moreno, a orientação geral após ser queimado por uma água-viva é manter a calma, buscar a guarita mais próxima, onde será disponibilizado vinagre para molhar o local lesionado. Não se deve esfregar a substância na pele.
“Depois, se molha com água do mar é apenas isso. A água-viva vai entender que a água doce é agressiva para ela e liberará ainda mais toxinas”, disse ele. A reportagem também questionou a 18ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), que abrange o Litoral Norte, mas, segundo o coordenador Robson Brehm, os dados não chegam na íntegra ao escritório, porque a grande maioria das pessoas afetadas não chega a buscar atendimento na rede de saúde. A divisão de Fauna da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) explicou que o aumento da temperatura da água do mar nesta época é um fator que explica o aumento da população das águas-vivas.
“Este é um fenômeno totalmente natural, que ocorre devido ao aumento do fitoplâncton, que serve de alimento para estes animais. Apesar de natural, alguns fatores podem estar contribuindo para um maior número de avistamentos dessas espécies nas últimas décadas. Entre esses fatores, destacam-se o aumento da temperatura das águas oceânicas e alterações nos ambientes praianos”. A Sema afirmou ainda que, dado este comportamento temporário, não realiza qualquer atividade de controle ou alteração do comportamento natural destas espécies.
Correio do Povo