Apesar de evitar o pior, houve vazamentos nas vedações e rompimento de comporta
Com colapso do sistema na região do 4º Distrito, alagamentos tomaram avenidas e suspenderam a operação dos trens em três estações de Porto Alegre | Foto: Maria Eduarda Fortes
Porto Alegre viveu mais um dia histórico.
Nesta terça-feira, o nível do Guaíba atingiu o patamar de 3,46m no Cais do Porto às 8h e renovou a maior marca desde a grande enchente de 1941.
Foi um dia para pôr à prova o sistema de contenção de cheias da cidade. E houve falhas.
Todo o complexo se estende da freeway à avenida Diário de Notícias e conta com mais de 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 23 casas de bombas.
O fechamento dos portões foi acionado na segunda-feira pela manhã, pela terceira vez no ano, e ocorreu em um momento em que a água do Guaíba já invadia pontos do 4º Distrito.
Após enfrentar problemas para fechar a comporta de número 12, todo o sistema ficou vedado por menos de quatro horas.
Ainda durante a tarde de segunda-feira, a comporta de número 13 não conteve o fluxo a passagem da água, cedeu e gerou o colapso do sistema na região.
Diante da força da água, o portão localizado na região do Parque Náutico, abriu parcialmente e sobrecarregou o conduto forçado, projetado para reduzir alagamentos e ocasionou a inundação no 4º Distrito.
Sem a proteção atuando conforme projetada, a água também invadiu os trilhos da Trensurb.
De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), a vedação com sacos de areias não havia sido realizada na comporta que falhou, como procedido nas demais aberturas do Cais Mauá, ocasionando o extravasamento para as vias do entorno.
Uma operação especial foi montada desde às 22h de segunda e avançou pela madrugada e manhã desta terça-feira.
A intenção era diminuir o vazamento de água, que durante à noite chegava a criar correnteza na avenida Voluntários da Pátria e deixou um carro parcialmente submerso.
A contenção foi reforçada durante a tarde e, segundo expectativa do Demae, em não havendo uma elevação súbita do nível do Guaíba, o conduto forçado voltará a atuar em condições normais, reduzindo gradativamente o acúmulo de água nos trechos afetados. “Estamos montando uma estrutura, um ‘mini dique’ para represar a água o máximo possível.
Os demais portões estão estáveis no momento e será realizado o reforço com sacos de areia para evitar um eventual aumento no nível do Guaíba”, explicou a diretora de operações do departamento, Isabel Costa. “As casas de bombas estão ativas e devolvendo a água para o Guaíba, reduzindo o impacto para a população”, reforçoi o diretor-geral Maurício Loss.
Operação ao longo desta terça-feira tentou isolar vazamento em comporta | Foto: Mauro Schaefer
Vedações vazaram
Mesmo com o auxílio da barreira formada com lonas e sacos de areia, a água começou a invadir a Avenida Mauá, no Centro Histórico, a partir de vazamento na comporta de número 3, próximo ao Tribunal de Contas do Estado.
O portão não impediu um fluxo contínuo, mesmo que ainda pequeno, sobre a via.
Como as galerias de drenagem pluviais do entorno estão dando conta, não havia acúmulo de água no local suficiente para causar transtornos ao trânsito de veículos.
O mesmo ocorreu em um dos maiores portões de todo o sistema de diques da cidade, o de número 12 na altura da avenida Cairú e que dá acesso da Voluntários da Pátria à Castelo Branco.
Na segunda-feira a estrutura estava fora dos trilhos, escorada na parede.
Após uma grande operação envolvendo guindastes e soldadores, o portão foi fechado.
Na tarde desta terça-feira, o acúmulo de água que passava pela estrutura tomava por completo o túnel e avançava em direção à Voluntários da Pátria.
Porto Alegre em emergência
No início da tarde, o prefeito Sebastião Melo, acompanhado de integrantes da Defesa Civil e da Brigada Militar sobrevoaram a região das ilhas, área da Capital mais afetada pela cheia do Guaíba.
O reconhecimento aéreo, que durou aproximadamente uma hora e meia, contribui para a definição de medidas que serão adotadas pelo município no apoio às famílias atingidas e a posterior recuperação dos estragos causados pela inundação. “É uma situação muito dolorosa. Todas as cinco ilhas em grande dificuldade, não tem uma casa que não tenha sido atingida, e a projeção é que não vai melhorar nos próximos quatro ou cinco dias”, projeta Melo.
Outras regiões monitoradas são Guarujá e Serraria e o limite com Cachoeirinha, na zona Norte, onde os pontos de atenção são o bairro Sarandi e o dique do Arroio Feijó, próximo da Fiergs. Melo também comentou sobre os alagamentos no 4º Distrito e reforçou confiança no sistema de prevenção de cheias e alagamentos.
“O conduto Álvaro Chaves é uma dos sistemas mais importantes, atende a 14 bairros e conduz a água com grande velocidade, mas como o Guaíba está muito cheio, ocorrem problemas. E as bombas de drenagem estão trabalhando conforme previsto, o que minimiza os alagamentos”, completa Sebastião Melo.
Durante reunião no Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), Melo anunciou a edição de um decreto colocando a Capital em situação de emergência. A medida foi publicada no Diário Oficial de Porto Alegre (Dopa) e pretende simplificar as contratações necessárias para minimizar o impacto da cheia à população.
*Com informações do repórter Cristiano Abreu
Correio do Povo