Bruna Nathiele Porto da Rosa, 26 anos, é uma das rés pelo assassinato do menino.
Após duas horas de duração, terminou o interrogatório de Bruna Nathiele Porto da Rosa, 26 anos, que é julgada pelo assassinato do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos.
A ré optou por não responder somente as perguntas da defesa de Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 28 anos. A versão da madrasta é o oposto da que foi apresentada pela mãe. O depoimento iniciou às 20h38min.
Enquanto Yasmin alegou que sempre foi uma boa mãe, mas que isso só mudou com o relacionamento com Bruna, no qual teria se afastado do filho, a madrasta descreveu a então namorada como uma pessoa que já torturava o filho.
— Ela sempre se demonstrou uma pessoa bem agressiva. Ela pegou uma pimenta e colocou na boca dele — descreveu, sobre um dos castigos que teriam sido aplicados pela mãe.
Bruna disse que em mais de uma vez Yasmin espancou o filho. Num dos episódios, ela teria batido no garoto após ele comer um chocolate. O menino seria intolerante a lactose.
— Ela estava batendo com a cabeça dele na parede. Isso foi em 2020, logo quando a gente se conheceu — disse.
Bruna admitiu ter torturado Miguel psicologicamente, ter gravado vídeos ameaçando a criança e ter ajudado a levar o corpo do garoto até o rio. No entanto, alegou que não teve participação no assassinato do menino.
— Com a tortura e ocultação. Com a morte não. Ele foi espancado, foi torturado psicologicamente, e fisicamente e não comia. Matar eu não matei — disse.
Ao ser indagado sobre quem espancava Miguel, Bruna reiterou que era a mãe do menino.
— Pela Yasmin. Eu torturei ele psicologicamente. Nunca bati nele.
A madrasta chegou a citar os casos dos meninos Bernardo Boldrini e de Rafael Winques – garotos que também foram assassinados no Estado, em casos de repercussão. Bruna disse que após a morte de Miguel chegou a dizer que não queria que se transformasse num caso como o de Graciele, a madrasta de Bernardo, ou de Alexandra, a mãe de Rafael. As duas foram condenadas pelas mortes dos garotos.
Torturas
Sobre o fato de Miguel pouco deixar a primeira pousada onde viveu em Imbé, e não ter sido sequer visto no segundo local para onde se mudaram, Bruna disse que era em razão das torturas sofridas:
— Ele começou a ser muito torturado.
Bruna disse que a última imagem de Miguel, na qual o menino aparece bastante magro, pálido e com olheiras profundas, recebeu tratamento para “melhorar a imagem”.
— Ela queria mandar para a mãe dela, para ela pegar o Miguel — disse.
Sobre o vídeo no qual aparece ameaçando o garoto, dentro de um armário, afirmando que irá espancá-lo, a madrasta se defendeu dizendo que o vídeo foi forjado para assustar a mãe de Yasmin, para que ela buscasse o neto e ele fosse viver com ela, em Paraí, na Serra.
— Só foi gravado mesmo, não fiz. Para mandar a mãe de Yasmin, para ver a situação em que ele se encontrava, para ver se ela vinha buscar ele — alegou.
Bruna afirmou que Yasmin não alimentava o filho, e que torturava a criança de forma física e psicológica.
— Ele com as mãos amarradas para trás, ela falava que ele tinha dez minutos para comer no pote.
Segundo a madrasta, Miguel era obrigado a fazer as necessidades dentro de um armário e que eventualmente a mãe permitia que ele tomasse banho.
— Ela dizia que era uma forma de castigar ele. Começou com ela amarrando ele na cama, depois ela colocou dentro do guarda-roupas. Ela não queria que ele mexesse na comida — disse.
Ao ser questionada pelos promotores André Tarouco e Karine Teixeira sobre os motivos desse tipo de ação contra a criança, a madrasta voltou a dizer que Yasmin foi a responsável.
— Ela dizia que não gostava mais dele. O Miguel foi torturado desde o começo do ano.
A madrasta disse que a avó materna do menino não sabia das agressões e torturas sofridas pelo garoto.
O crime
Sobre a noite do crime, Bruna disse que Yasmin usou uma seringa para colocar o medicamento na boca da criança à força, após ele ter sido espancado. A madrasta afirmou que após os espancamentos chegou a indagar a companheira sobre o risco de o menino morrer.
— E se ele morrer? “Se ele morrer hoje, amanhã faz dois dias” — Bruna reproduziu o que seria uma fala de Miguel.
A madrasta disse que após ser colocado no guarda-roupas ferido no outro dia o menino teria chamado por Yasmin.
— Ele gritou “mamãe”. Mas ela não foi — disse a madrasta.
A ré alegou que foi Yasmin quem decidiu colocar o filho dentro de uma mala para se desfazer do corpo, e que o menino estava somente com 15 quilos.
— Ela botou dentro de uma mala, e foi largado no lago. Fui até lá, chegando lá, ela foi um pouco mais pra frente, jogou, e uma onda veio e levou ele — descreveu.
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