O grande risco do matrimônio é achar que a sedução está resolvida, que é para sempre, gerando uma acomodação da conquista.
Nunca deixe de namorar com quem você se casou.
Namorar é oferecer uma atenção diária, uma assídua afeição: a gentileza dos olhares demorados e os ouvidos em prontidão.
É manter a consciência de que estão ainda se conhecendo, com a curiosidade aliada das descobertas.
No namoro, existe uma indefinição positiva: como a relação pode terminar a qualquer momento, ela sempre cresce. O coração recebe um comando: tem que fazer por merecer, tem que valer a pena.
Não se pode cometer grosserias, não se pode mentir, não se pode enganar. A fiscalização passa a ser redobrada.
O futuro em aberto intensifica o presente, assim como a distância fabrica a saudade.
Você não erra por soberba ou indiferença. Não vai deduzir o que a pessoa irá dizer, lendo equivocadamente pensamentos; não vai acreditar que sabe tudo do outro, a ponto de se valer da telepatia; não completará as frases antes do seu término; não criará indisposições em relação a finais de semana e encontros com familiares e amigos.
O grande risco do matrimônio é achar que a sedução está resolvida, que é para sempre, gerando uma acomodação da conquista. Você se julga definitivo, não tendo nada a perder, muito menos a ganhar. Os meses se tornam monótonos, iguais, sem a frequência do desejo, sem a visita do arrebatamento.
Você não se esforça mais para o flerte ou para realizar programas diferentes, sob o pretexto da fartura, de que se encontram juntos e disponíveis na mesma casa 24h por dia. A facilidade pavimenta o tédio. Estão lado a lado e jamais conectados pela presença.
Namorar no casamento é, principalmente, não abdicar do beijo na boca. Não se contentar com o selinho, com o som do estalo, com o cumprimento seco dos lábios, na hora de chegar ou partir.
O beijo na boca é a autêntica aliança, o ouro que vinga, a certidão que não desbota. Só que me refiro ao beijo de verdade, de girar o corpo, o pescoço, o rosto, de dar susto e surpresa.
O beijo molhado é que une. Um beijo úmido por dia renova o amor. Aquele beijo com ânsia dos tempos apaixonados, que confirma a admiração, que tem o mesmo valor de uma carícia ou de um elogio.
O beijo sussurrado, em que você cheira a respiração do seu par.
O beijo solto e livre, que começa suave e aumenta o seu ritmo pouco a pouco, desprovido de previsão para acabar.
Não o beijo forçado, cinematográfico, cênico, de canto, fingido para a câmera ou para os filhos.
O beijo que encerra um segredo a dois, um sotaque do casal, que faz você se atrasar (o motivo é nobre) e perder a noção de onde está.
O beijo que toca uma canção interior, que lembra a música de que tanto gostam, que desperta a vontade de abraçar e dançar.
O beijo de língua não permite o vazio, a lacuna, o lapso. Desfaz as formalidades, que esfriam os laços e destreinam o corpo da aproximação. Serve para combater os gestos automáticos, a mecânica exaustiva das frases prontas. É a anistia das distrações, o perdão das críticas e das implicâncias.
Nunca deixe de beijar na boca quem você ama. É namorar eternamente, espontaneamente.
Casais que não se beijam mais já estão se separando.
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