Volumes excessivos de chuva nas últimas horas na Metade Norte tornam a agravar a situação dos rios com repique de cheias.
Volumes elevados a excessivos de chuva atingiram, como era previsto, a Metade Norte do Rio Grande do Sul entre ontem e o começo deste domingo, o que já provoca elevação dos rios com repique de cheia e transbordamento com inundação.
Os acumulados de precipitação ficaram na faixa que era prevista de 50 mm a 150 mm na maior parte da Metade Norte gaúcha com os maiores volumes entre o Noroeste, o Alto e Médio Uruguai, o Planalto Médio, a Serra e os Campos de Cima da Serra. A chuva passou de 100 mm em diferentes municípios destas regiões e se aproximou da marca de 150 mm em alguns, ou seja, em apenas 24 horas choveu 75% a 100% da média de precipitação de junho em diversas localidades.
A chuva foi consequência no primeiro momento do avanço de ar quente em altitude no Paraná e em Santa Catarina que, ao encontrar a massa de ar frio sobre o Rio Grande do Sul, acabou por instabilizar a atmosfera. No segundo momento, com uma área de baixa pressão e a aproximação de uma nova massa de ar frio a partir do Sul, uma frente fria se organizou sobre a Metade Norte, o que intensificou a chuva no final do sábado e nas primeiras horas do domingo.
Na Grande Porto Alegre, como a MetSul havia antecipado na sexta-feira a partir de novos dados que indicavam uma redução da precipitação na região metropolitana, os volumes ficaram em média entre 30 mm mais ao Sul da região e 70 mm mais ao Norte, tal como era indicado. Os acumulados de chuva até o meio da manhã deste domingo atingiam 68 mm em Campo Bom, 60 mm em São Leopoldo, 55 mm em Novo Hamburgo, 52 mm em Gravataí, 46 mm em Alvorada, 44 mm em Sapucaia do Sul, 43 mm em Porto Alegre, 35 mm em Viamão e 33 mm em Eldorado do Sul.
QUANTO CHOVEU NA METADE NORTE
Os dados a seguir mostram os totais de precipitação de ontem e hoje até o meio da manhã em estações de monitoramento do Instituto Nacional de Meteorologia e do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden).
-Horizontina: 140 mm
-Vacaria: 135 mm Erechim: 133 mm
-Lagoa Vermelha: 127 mm
-Passo Fundo: 126 mm
-Redentora: 121 mm
-Frederico Westphalen: 105 mm
-Veranópolis: 104 mm
-Santa Rosa: 103 mm
-Flores da Cunha: 102 mm
-Caxias do Sul: 100 mm
-Antônio Prado: 99 mm
-Santa Maria do Herval: 95 mm
-Palmeira das Missões: 95 mm
-Ijuí: 94 mm
-Canela: 91 mm
-São Francisco de Paula: 90 mm
-São José dos Ausentes: 90 mm
Pinto Bandeira: 90 mm
-Cotiporã: 86 mm
-Serafina Corrêa: 86 mm
-Bento Gonçalves: 80 mm
-Vale Real: 80 mm
-Soledade: 78 mm
-Santo Augusto: 78 mm
-Rolante: 77 mm
-Caraá: 76 mm
-Nova Petrópolis: 75 mm
-Três Coroas: 75 mm
Como se observa, os acumulados de chuva foram elevados com marcas acima de 100 mm principalmente em pontos mais ao Noroeste e ao Norte do estado enquanto na Serra os volumes ficaram na maioria das localidades, em média, entre 75 mm e 100 mm.
PIOR DA CHUVA JÁ PASSOU
O período mais crítico de chuva na Metade Norte era o fim da tarde e noite de ontem assim como o começo deste domingo. Assim, o pior da chuva já passou.
O tempo, porém, segue instável no Rio Grande do Sul neste domingo com muitas nuvens e precipitação, mas que na maioria das localidades da Metade Norte deve se dar na forma de chuva leve ou garoa.
Desta forma, os volumes nas próximas horas tendem a ser baixos e em vários pontos ínfimos.
MAS O PIOR DOS RIOS ESTÁ POR VIR
As três regiões que mais preocupam pelos impactos hidrológicos da chuva que caiu nas últimas horas, a partir da avaliação dos níveis atuais e de quanto choveu, são a Fronteira Oeste, os vales e a área metropolitana.
De acordo com a análise da MetSul, os grandes rios que mais devem ser impactados devem ser o Uruguai na Fronteira Oeste, Taquari, Caí, Paranhana, Sinos e Gravataí.
O Uruguai está em condições de cheia no Oeste e os elevados volumes de chuva junto ao Noroeste, ao Norte e ao Nordeste gaúcho (nascente no Rio Pelotas) registrados entre ontem e hoje, com marcas de 100 mm a 150 mm no Noroeste e no Norte do estado, tende a agravar a cheia nos próximos sete a dez dias (é uma bacia extensa).
Choveu com altos volumes ainda na Serra, nos Campos de Cima da Serra, no Planalto Médio e entre a Serra e Litoral Norte, onde estão as nascentes e partes superiores de diversas bacias de rios que descem para os vales.
Como rio de resposta rápida, o Caí já subiu muito e superou a cota de inundação de 10 metros em São Sebastião do Caí no meio da manhã deste domingo.
Seguia subindo rápido no final da manhã e deve atingir e superar as cotas da cheia da semana passada de 13 metros em São Sebastião, que terá inundações assim como Montenegro.
O Taquari é um rio que responde menos rápido no vale que o Caí, mas já apresenta forte elevação na parte superior da bacia e ainda neste domingo pode atingir as cotas de inundação na parte baixa do vale.
A cheia pode ser semelhante ou superior ao da última semana, quando atingiu 23 metros em Estrela. Rio Jacuí teve volumes de 70 mm a 120 mm perto da nascentes em Passo Fundo, mas na choveu muito na parte média da bacia no Centro do estado, tal como era indicado pelos modelos.
Choveu mais que os modelos indicavam no Vale do Rio Pardo com marcas de 50 mm.
Assim, o Jacuí voltará a se elevar durante a semana, entretanto sem a gravidade de dias atrás. Preocupam os rios Gravataí e do Sinos, que seguem altos e represados pelo Guaíba.
O Sinos receberá a vazão do Paranhana, com a chuva que caiu na Serra, e ainda da região de Caraá, onde a precipitação passou de 70 mm.
Portanto, o Sinos que já estava perto da cota de inundação em São Leopoldo antes mesmo de começar a chover terá elevação nos próximos dias com cheia maior que a semana passada. Já no caso do Gravataí os volumes não chegaram a ser excessivos nas nascentes.
O problema é que está alto, a vazão aumentará e terá o represamento do Guaíba que subirá. Isso pode determinar um agravamento do quadro em Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, na zona Norte de Porto Alegre (Sarandi) e Alvorada (Arroio Feijó que é represado pelo Gravataí). O Guaíba, como se sabe, recebe as águas do Jacuí, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí. No começo deste domingo ainda apresentava leve recuo e medição de 2,74 metros no Cais Mauá.
Como o nível estará ainda alto, embora a mais de meio metro da cota de inundação antes de uma nova escalada, a nova onda de vazão combinada com vento traz uma condição de risco para Porto Alegre.
Ventará forte na segunda metade deste domingo no Norte da Lagoa dos Patos com risco de elevação do nível do Guaíba antes mesmo da chegada da vazão dos rios gerada pela chuva deste fim de semana.
A onda de vazão chegará durante a semana, notadamente entre terça e quinta, mantendo o Guaíba alto ao menos até a segunda semana de julho.
Haverá ainda vento Sul na Lagoa entre segunda e quinta, mas fraco a moderado entre terça e quinta com efeito de represamento mais modesto.
No caso do Guaíba, em nossa avaliação, e diante de uma grande preocupação do público, reiteramos que não há qualquer possibilidade de repetição das condições observadas em maio de 2024.
Reitera-se: a chance de se repetir maio de 2024 (cotas acima de 5 metros) não existe. Em nosso entendimento, no melhor cenário (otimista), o Guaíba alcançará marcas próximas do pico da última quarta (ao redor dos 3 metros no Cais Mauá) e no pior cenário (pessimista) atingirá marcas perto ou ao redor dos picos das duas cheias do segundo semestre de 2023 (3,15 metros a 3,50 metros).
Hoje, sabendo-se o que já choveu, o mais provável é um quadro entre o cenário otimista e intermediário.
metsul.com