Projeção é baseada em dados de previsão de nível da água em Porto Alegre.
Muitas pessoas se perguntam até quando deve durar a inundação que atinge as cidades da região sul do Estado margeadas pela Lagoa dos Patos. A projeção, baseada em dados de previsão de nível de água em Porto Alegre, é que as inundações possam durar pelo menos mais três semanas.
Segundo o Pró- Reitor de Pesquisa e Graduação, que está conduzindo as atividades do Comitê de Avaliação e Prognóstico de Eventos Extremos da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Eduardo Secchi, o fluxo de escoamento também é influenciado pela quantidade de água que cai das chuvas.
“No vento sul forte a água represa muito, já quando é nordeste auxilia a saída, mas apesar de ajudar no escoamento também empurra para margem oeste onde está a cidade de Rio Grande”, explica
O professor lembra que quando o nível da Lagoa está baixo não há problema, não é o que ocorre atualmente. “O ideal é o vento nordeste. Há a previsão de chuva na segunda-feira no Norte do Estado e na região dos Vales de 100 mm e pela previsão do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/ UFRGS), nos dias 22 e 23 começará a descer o nível da água na região de Porto Alegre ”, projeta.
Pelos dados, no dia 22, o Guaíba ainda estaria acima do nível de inundação, ou seja, acima de três metros. “Se lá (Porto Alegre) ainda estará alto, aqui (região sul) a situação de alagamento deve seguir por mais tempo”, confirma.
O vento nordeste é predominante na região, mas quando se aproxima o inverno, o vento sudoeste começa a ser mais presente. “Tudo muito dinâmico, mas não deve mudar muito o que está previsão do IPH/ UFRGS”, afirma.
A FURG desenvolveu mapas, onde é possível saber a altura da água em cada ponto de Rio Grande. “Como não dá para ter certeza do nível da Lagoa realizamos projeções e cenários. Se hoje (sábado) o nível estiver 20 centímetros abaixo iremos descontar 20 centímetros do mapa de áreas de risco. Quando esta água toda descer então podemos dizer para aumentar a área se o vento tiver desfavorável. É dinâmico. O que é certo é que o alagamento irá permanecer por semanas”, confirma.
A professora do Instituto de Oceanografia da FURG, Elisa Fernandes relata que o IPH fornece a previsão das descargas dos rios para os próximos dez dias. “O desague deve ser mais forte neste período, mas poderá ocorrer por mais tempo. Por exemplo, na enchente do ano passado, que não foi nem perto do que está ocorrendo a Lagoa levou mais de um mês para voltar ao normal”, lembra.
Ela projeta ao menos 30 dias, a partir de hoje para que o sistema retorne ao seu funcionamento normal. O escoamento de praticamente todos os rios do Estado se dá pela Lagoa dos Patos. Eles convergem todos para o Guaíba e o único caminho para chegar ao Oceano é a Lagoa.
“O Estado tem topografias diferente. No Norte tem montanha, vales e quando o volume de água aumenta muito (chuva) ela acaba ficando presa e promove elevação brusca de níveis. Quando chega no Sul, é diferente pois é plano. A água se espalha e ocorre enchente em menores proporções”, compara. Ela acredita que pode chegar e superar o nível da enchente que ocorreu em 1941.
Inicialmente, a FURG fez simulações de inundação da cidade de Rio Grande considerando o nível da enchente daquele ano mais 40 centímetros, Elisa conta que atualmente a nova simulação está sendo feita em um cenário mais crítico. De 60 centímetros em relação ao nível ocorrido em 1941. “Passamos os dados para que seja feito um plano de ação pela Defesa Civil para um cenário mais extremo. Isto é para estarmos mais preparados fazer evacuação nas áreas críticas da cidade”, justifica.
Com a previsão de chuva de 100 milímetros para o Norte do Estado, muita água deverá chegar o Guaíba e consequentemente ao sul do Estado.
Cheia de 1941
O professor aposentado do Instituto de Oceanografia da FURG, Osmar Möller Júnior, lembra que em 1941 não existiam dados dos rios Camaquã, Caí, Sinos e Gravataí, além do Canal São Gonçalo, somente era levado em conta os níveis dos rios Jacuí e Taquari. “Era uma descarga de 21 mil m3 por segundo de água.
A descarga média dos dois rios é de 1,7mil m3 por segundo, ou seja, 15 vezes mais do que a média de 1941. A de agora, com os outros rios, segundo pesquisadores da UFRGS e Univale, chegou a 30 mil m3 por segundo”, afirma. Ele compara com a bacia do Rio da Prata, onde em média passam 23 milm3 por segundo.
“Portanto em uma bacia que é menor tivemos mais que o volume do Rio da Prata. O lado positivo é que a Lagoa tem 10 mil km2, enquanto que o Rio Guaíba tem 600 km2, logo não deverá acontecer o que ocorreu em Porto Alegre”, projeta. O professor estima que na cheia de 1941 a altura da Lagoa dos Patos tenha chegado a 1,7m.
A medida foi feita com base em fotografias do nível da água nos prédios em Rio Grande na enchente daquele ano.
Correio do Povo