Proliferação de algas deixa as águas com coloração esverdada e repete ocorrência de verões anteriores na Costa Doce.
Moradores e visitantes se depararam neste domingo com as águas esverdeadas em Tapes e em outros pontos banhados pela Lagoa dos Patos na região da Costa Doce.
A forte coloração esverdeada surpreendia quem se aproximassem das águas nas margens da maior laguna da América do Sul.
Não é um fenômeno novo e em anos anteriores vários pontos da Lagoa dos Patos também apresentaram uma forte coloração esverdeada, especialmente em condições de estiagem, o que exige atenção tanto dos moradores como dos banhistas.
Pesquisadores da Uergs (Universidade do Estado do Rio Grande do Sul) em episódios dos últimos anos coletaram amostras da água e fizeram análises químicas e biológicas para entender o fenômeno.
As análises mostraram que sob alta temperatura e grande oferta de elevados níveis de nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo) se formam as denominadas “marés verdes” ou “azuis”, causadas pela proliferação das cianobactérias em água doce.
De acordo com os pesquisadores que estudaram os eventos de bloom (proliferação) de algas na Lagoa dos Patos, os gêneros envolvidos em regra são Anabaena, Microcystis ou Aphanizomenon.
A cianobactérias, também chamadas de algas azuis ou algas cianofíceas, são micro-organismos procariontes capazes de realizar fotossíntese, mas não apresentam fotossistemas organizados em cloroplastos. Por essa razão, elas são, muitas vezes, comparadas com bactérias e algas.”
Os especialistas advertem que as toxinas liberadas pelas cianobactérias podem causar vários sintomas gastrointestinais e hepáticos em humanos, com sintomas como diarreia, vômito, indisposição, dor abdominal, em casos agudos os sintomas chegam a durar mais de uma semana.
Advertem ainda que os organismis também causam irritação na pele e mucosas internas. Por isso, não se recomenda contato com água enquanto apresentar a floração e as águas estiverem com a coloração alterada.
Um estudo de João Yunes, da Fundação Universidade de Rio Grande, publicado em 2009, descreve que florações da cianobactéria Microcystis são regulares e recorrentes na lagoa dos Patos e seu estuário.
Embora o primeiro registro científico seja datado de 1987, informações de antigos moradores das margens indicam que as florações de cianobactérias existem desde o começo do século passado.
“Diferente de outros corpos aquáticos a lagoa dos Patos é uma laguna. Este fato favorece o forte fluxo de descarga de água no sentido Norte-Sul, principalmente durante os meses de mais intensas chuvas e quando sob a predominância dos ventos Norte ou Nordeste.
Já nos verões, devido à estiagem ou predominância de ventos de outros quadrantes, o fluxo de enchente de águas marinhas (desde o Oceano Atlântico-Sul) força uma ‘cunha’ de água de maior densidade e salinidade a penetrar pelo fundo e lavar a superfície do sedimento do estuário”, explica Yunes em seu estudo. “Como resultado observou-se nos monitoramentos que os eventos das florações eram antecedidos e/ou concomitantes a uma relação dos nutrientes de nitrogênio combinado solúvel sobre o fósforo”, acrescentou.
De acordo com a Fepam, a fundação ambiental do Rio Grande do Sul, a avaliação da ocorrência de florações de cianobactérias em mananciais com pontos de captação de água para consumo humano, em áreas de balneabilidade e em áreas com atividade de pesca é importante, por serem esses organismos potenciais produtores de toxinas (hepatotoxinas, neurotoxinas e dermatotoxinas), capazes de produzir intoxicações agudas ou crônicas.
No entanto, apenas a ocorrência de floração não indica diretamente que haja produção de toxinas, sendo necessárias análises laboratoriais específicas para essa confirmação.
Segundo a legislação vigente, o valor máximo permitido é de 50.000 células de cianobactérias/mL para uso de recreação de contato primário e a ocorrência de florações de algas ou outros organismos, é um dos indicadores de condições impróprias para a balneabilidade, até que se comprove que não oferecem riscos à saúde humana.
metsul.com