Ator e recitador de cordel. Influenciadora fitness e apresentadora de um programa de rádio. Assim se apresentam nas redes sociais o casal cearense Aldanísio Paiva e Regina Belo, de 50 anos.
O que não consta na autodescrição dos dois, no entanto, é que ambos também são suspeitos de tirar proveito da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul para aplicar golpes.
Criando falsas chaves pix — a polícia estima que pelo menos 235 —, eles desviaram dinheiro de campanhas que tinham como objetivo ajudar vítimas das enchentes e resgatar animais deixados para trás.
O casal foi preso na manhã dessa quinta-feira (13), em Fortaleza (CE), em mais uma etapa da Operação Dilúvio Moral, da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que apura fraudes e golpes virtuais envolvendo aproveitadores. Responderão pelos crimes de estelionato, falsificação e uso de documentos falsos.
Os investigadores contam que Aldanísio Paiva, que utiliza o nome artístico Aldo Anísio, e a esposa, Regina Belo, abriam contas bancárias com uso de documentos falsos e, a partir disso, criavam chaves pix com códigos similares aos usados em campanhas verdadeiras de arrecadação de doações para vítimas das enchentes no Sul. Eles sempre alteravam apenas um dígito da chave original, visando se aproveitar de doadores voluntários que acabassem se equivocando ao digitá-la.
Nas redes sociais, Aldanísio divulga com frequência suas apresentações como cordeleiro, chamadas de Cordel Vivo, normalmente realizadas em centros culturais da capital cearense. Também publica registros de participações em entrevistas de TVs locais e podcasts. Além de recitador, afirma também ser ator e interessado em cinema.
Regina Belo, por sua vez, se apresenta como uma influenciadora fitness, de saúde e estética e relacionamento, além de atriz numa websérie amadora. A mulher, que conta com cerca de 26 mil seguidores, diz ainda que é apresentadora no programa Bem-estar, da rádio FM Benfica. Após a prisão dela, a emissora emitiu uma nota, em que afirma que Belo não é funcionária da empresa, mas que participava de um quadro independente, que agora foi “retirado da grade”.
“A direção da FM Benfica informa, para os devidos fins, que a senhora Regina Jorge Belo da Fonseca não é funcionária desta empresa. O podcast que ela apresentava na FM Benfica era realizado de forma independente, conforme contrato firmado entre ambas as partes. Informamos também que o referido podcast foi retirado da grade da nossa programação, pois não compactuamos com práticas criminosas”, escreveu a rádio.
Quebra de sigilo bancário
E eles conseguiram obter sucesso em várias transações — que ainda são contabilizadas pelos investigadores. As influenciadoras digitais Deisi Falci, que conta com 581 mil seguidores, e Paola Saldívia, seguida por 360 mil pessoas, começaram a perceber que vários doadores começaram a enviar comprovantes com o beneficiário diferente, ou mesmo reclamando que o nome não batia.
Foi aí que uma delas resolveu buscar a polícia e o esquema acabou descoberto.
“A polícia tomou conhecimento dessa fraude a partir do momento em que as influencers, militantes da causa animal, denunciaram, dizendo que tinham campanhas ativas de arrecadação de valores para resgate de animais em locais alagados e que pessoas que estavam doando começaram a mandar comprovantes que constavam em nome de outras pessoas”, conta o delegado Eibert Moreira, da Polícia Civil do RS, à frente do caso.
Segundo ele, o prejuízo total ainda será levantado.
“Nós já pedimos à Justiça a quebra do sigilo bancário dos dois, para sabermos quanto dinheiro eles conseguiram desviar através dessas chaves pix falsas”, conta. “Após a prisão, eles formalmente permaneceram em silêncio, mas informalmente confirmaram ao delegado, lá no Ceará, a prática do crime. Foram identificadas 235 chaves pix, sempre similares às das campanhas de arrecadação, tanto para doações a desabrigados, quanto para resgates de animais. No mês de maio, eles criaram chaves diariamente.”
Na residência do casal, a polícia cumpriu também um mandado de busca e apreensão. No local, eles encontraram uma série de documentos falsos em nome de terceiros e cartões bancários. No celular dos suspeitos, também foram achados várias prints que mostravam a criação das chaves pix falsas. O delegado conta que, através dos rastros deixados pela dupla, foi fácil chegar até eles.
“As chaves pix eram criadas a partir de contas criadas por eles com documentos falsos. Num dos casos, eles criaram uma conta com o documento de um casal de idosos do Ceará. A partir dessa conta, fomos verificar e descobrimos que eles usaram fotos deles próprios para fazer a autenticação. Então, trabalhamos com a identificação da imagem desses dois golpistas e chegamos até eles.”
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