Abertura de passagem na faixa que separa a Lagoa dos Patos do oceano exige estudo muito detalhado, alerta IPH

Segundo nota do órgão, medida pode causar diversos problemas caso processo seja feito de maneira atabalhoada. NASA / Divulgação

Sugestão surgiu nas redes sociais e instituto se pronunciou sobre o tema

Em meio ao caos, às perdas e às dificuldades para escoar a água da enchente que acomete o Rio Grande do Sul, surgem diversas ideias de soluções para acelerar a resolução dos problemas e minimizar as chances de o fenômeno voltar a acontecer.

Nos últimos dias, pipocaram mensagens em redes sociais sugerindo abrir uma passagem na faixa de areia que separa a Lagoa dos Patos do Oceano Atlântico. A medida seria uma maneira de reduzir o nível do Guaíba, que voltou a superar os cinco metros nesta segunda-feira (13), e evitar inundações futuras.

O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, em nota, ressalta que a medida poderia causar diversos problemas caso o processo seja feito de maneira atabalhoada.

O IPH enfatiza que esse tipo de empreendimento precisa de um estudo de viabilidade detalhado, o que levaria meses.

A pesquisa, de acordo com o instituto, precisaria ter uma visão multidisciplinar para que se possa ter um quadro amplo dos impactos positivos e negativos da modificação.

Sem o detalhamento prévio, há pouca garantia de que uma obra deste porte teria influência direta nos níveis da água no Guaíba e na Lagoa dos Patos. A elevação dos patamares está sujeita a uma multiplicidade de fatores.

Uma das advertências feitas pela entidade é de que depois da enchente, o fundo do Guaíba e da Lagoa dos Patos não é mais o mesmo. Uma modelagem computacional com os atuais dados poderia analisar o cenário em cerca de dois meses, porém sem a precisão necessária.

Com as modificações sofridas com a enchente, seria necessária uma nova coleta, o que poderia levar até seis meses para testar a viabilidade de maneira virtual. Também há a opção de realizar um modelo físico em escala, o que levaria de um ano e meio até dois anos para ser concluído.

Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e professor do IDH, Fernando Meirelles mostra-se cético em relação à eficiência da ideia.

— A possibilidade é de 0,01%. Hidraulicamente, o sistema está equilibrado na barra do Rio Grande, que não é o motivo da inundação. Chance quase nula. Mas se for para simular, a gente simula — explica.

Entre os principais riscos da medida estão a erosão das praias, a entrada de água salgada no Guaíba e na Lagoa do Casamento, além de impactar no ambiente, na sociedade e na economia, pois influenciaria na navegabilidade da região e na produção agrícola.

O IPH também sublinha que a medida tem um custo elevado tanto de implantação quanto de manutenção. Os danos podem ser irreversíveis, de acordo com a entidade.

Meirelles afirma que a barra está dando vazão à água e não mudaria a situação em Porto Alegre. A enchente atingiu a zona sul do Estado mais de uma semana depois de ter engolido a Capital.

Ele ressalta que um novo mapeamento do Guaíba será essencial para entender como proceder:

— Temos que reconhecer o Guaíba outra vez para poder rodas os modelos com maior precisão. Temos uma lista de ações preparada. Uma delas é um novo levantamento para voltar a entender como ficou o RS depois desse evento.

 

 

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