O Dia do Técnico em Segurança do Trabalho, celebrado em 27 de novembro, chama atenção neste ano para um cenário preocupante: o aumento dos acidentes de trabalho no Brasil.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o país registrou 724.228 ocorrências em 2024, um crescimento de mais de 11% em relação ao ano anterior, mantendo a tendência de alta observada desde 2021.

De acordo com o docente do curso de Técnico em Segurança do Trabalho da Escola Técnica Fundatec, Endrigo Rafael Mildner, o aumento desses números está relacionado a múltiplos fatores.

Entre eles estão o avanço do trabalho informal e terceirizado após a reforma trabalhista de 2017, o que levou à precarização das condições de trabalho e à negligência com normas de segurança.

Ele também aponta que a crescente pressão por produtividade, impulsionada por métricas de desempenho e plataformas digitais, tem ampliado casos de estresse, assédio e adoecimento físico e mental, o que aumenta o risco de acidentes.

Mildner observa ainda que muitas empresas, especialmente de pequeno e médio porte, não tratam a segurança como prioridade.

O investimento em capacitação e manutenção de equipamentos costuma ser visto como custo, e em períodos de crise econômica, são justamente essas despesas as primeiras a serem cortadas.

A redução no número de auditores fiscais do trabalho agrava o cenário, pois diminui a capacidade de fiscalização e o cumprimento da legislação trabalhista.

Nesse contexto, o papel do Técnico em Segurança do Trabalho torna-se ainda mais relevante, conforme destaca Mildner: “O Técnico em Segurança do Trabalho, enquanto consultor interno da organização, tem um papel que vai além do mero compliance”. Ele defende que o profissional deve participar do planejamento estratégico das empresas, integrar a segurança aos processos decisórios e acompanhar indicadores de desempenho, de modo que o tema deixe de ser tratado apenas como obrigação legal e passe a ser entendido como investimento e valor institucional.

Outro aspecto fundamental da profissão é o caráter educativo.

O professor explica que, quando o trabalhador entende o propósito das medidas de segurança e percebe que elas protegem sua vida e a dos colegas, a adesão às práticas preventivas ocorre de forma natural.

Cabe também ao técnico atuar como mediador entre os trabalhadores e a gestão, traduzindo normas técnicas em orientações acessíveis e promovendo o diálogo sobre as condições reais de trabalho. “O técnico precisa ser um agente de transformação dentro da empresa”, acrescenta Mildner, ao defender uma postura proativa e comunicativa diante dos desafios do cotidiano laboral.

Ele destaca que a formação técnica vem sendo atualizada para atender às novas demandas do mundo laboral. O currículo tem integrado temas como sustentabilidade, ergonomia e saúde mental, preparando o profissional para lidar com desafios contemporâneos. No campo ambiental, o técnico aprende a conciliar segurança e responsabilidade socioambiental; em ergonomia, a adaptar o trabalho ao ser humano, e não o contrário; e, no campo da saúde mental, a identificar e intervir em situações de estresse e sobrecarga emocional.

Os setores com maior necessidade de atenção, segundo o docente, são aqueles com alta rotatividade, informalidade e baixa presença de profissionais especializados, como a construção civil, o trabalho rural, os serviços de saúde e o comércio.

Ele destaca também o crescimento do trabalho por plataformas digitais, que cria novas lacunas na proteção e na fiscalização, exigindo atualização normativa.

Para Mildner, valorizar a profissão é um passo essencial para reduzir os índices de acidentalidade. “Promover a segurança é, acima de tudo, promover humanidade no trabalho”, afirma.

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