Algumas famílias improvisam barracas, enquanto outras precisam dormir em carros e vans. A maioria não quer abandonar sua casa por medo de saques.
Os alagamentos que avançam na região das Ilhas, no bairro Arquipélago, já podendo ser vistos acima da BR 290, provoca êxodo de moradores e um cenário que se repete da enchente de maio de 2024: famílias acampando em estradas. Na segunda-feira, já havia pessoas próximas ao Centro de Treinamento Marina Navegantes São João, com lonas, em meio ao vento gelado e temperatura baixa.
Abaixo da BR 290, Fábio Estevão, de 42 anos, morador da rua Nossa Senhora Aparecida, na Ilha dos Marinheiros, assava carnes em uma churrasqueira improvisada nesta manhã. “Para não estragar”, ele justifica. Junto com sua esposa, filha, cunhado e genros, também improvisou duas barracas, enquanto outros estão dormindo em uma van. Quando saíram de casa, a água na rua chegava na cintura, e faltava um degrau para chegar na residência. “Fiquei com medo, porque moro muito em cima. Se vem um vento Sul, não consigo sair, porque não temos barco”, diz.
A família está no local desde segunda-feira e dormindo há três noites, que têm sido frias, ele relata. “Temos que levar, temos que sobreviver”, diz. Agora, ele já conseguiu puxar um fio de gato para conseguir ter luz. Eles pretendem continuar no lugar até a água baixar.

Perto dali, Gabriela Konrad, também moradora da Ilha dos Marinheiros, segura seu filho de três anos no colo, que já passa por uma enchente pela segunda vez. Ela tenta, de maneira frustrada, encontrar algum ponto na rua que não precise molhar os pés na água. Ela havia acabado de ser resgatada pelo Corpo de Bombeiros.
“É a segunda vez que saímos de casa”, relata. Seu marido segura um botijão de gás em uma mão e uma gaiola com seu gato. Ela diz que a família saiu pelo telhado no ano passado. “Quando falaram que teria enchente, e dessa vez me preparei”, diz.

Tatiane Campos Teles, moradora da rua 1 Ilha das Flores, pegou roupas e cobertores e pretende ficar acampada próximo à BR 290, em um caminhão de frete de um vizinho. A recicladora relata que a correnteza da água está rápida e prestes a entrar na sua casa.
Sua mãe, que é idosa, e suas duas filhas crianças, de 12 e sete anos, foram para Gravataí na casa da irmã. Ela quer ficar para vigiar sua casa, por medo de saques.
“Vim pra cá por medo. A última que deu foi horrível, e a pessoa fica apreensiva”. Melhor estar aqui do que acontecer uma tragédia”, diz. Ela lamenta que foi negada sua estadia solidária, por viver em condições de vulnerabilidade. “Não ganhei 1 centavo”, diz indignada.

Prefeitura reforça ações no bairro Arquipélago
O prefeito Sebastião Melo realizou reunião com a Comissão Permanente de Atuação de Emergências (Copae), na manhã desta quarta-feira, com o objetivo de reforçar auxílios para afetados no bairro Arquipélago.
Com apoio do Corpo de Bombeiros, Marinha do Brasil, Exército e Brigada Militar, as equipes estão circulando nas ilhas, com auxílio de caminhões e embarcações, oferecendo acolhimento aos moradores que necessitam sair de suas casas, assim como seus animais de estimação. Ainda, a Defesa Civil de Porto Alegre montou um posto avançado na Ilha da Pintada.
Muitos moradores das Ilhas também estão abrigados na Arena KTO, que acolhia até 70 pessoas até a manhã desta quarta-feira.
No local, além de alimentação e pernoite, a prefeitura disponibiliza atendimento de saúde e acompanhamento social.
Correio do Povo