Os perigos da distorção de imagem criada pela inteligência artificial
Por Luise Albuquerque
Nos últimos dias, as redes sociais vêm sendo inundadas por simulações de ensaios fotográficos criados pelo aplicativo Remini, que utiliza inteligência artificial para produzir fotos realistas a partir de registros enviados pelos próprios usuários. Apesar de surpreendente, o realismo das fotos cria um problema já muito conhecido com a popularização das ferramentas de edição e filtros de redes sociais: a distorção de imagem.
De acordo com a pesquisa Global Digital Overview 2020, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de população que mais passa tempo nas mídias sociais, totalizando em média 3 horas e 31 minutos diários. Imersos em uma sociedade cada vez mais conectada, sabemos que hoje é difícil delimitar a linha tênue entre a realidade e o mundo virtual, onde tudo e todos são perfeitos. A imagem de influencers e sua beleza muitas vezes inatingível também ajuda a enfatizar o problema, podendo causar efeitos emocionais e psicológicos graves.
O dismorfismo corporal que já vemos presente nos consultórios só tende a aumentar com a popularização da inteligência artificial e dos filtros que criam peles de cera. Diante de uma tecnologia que sabemos, dificilmente será freada, o ideal é educar e conscientizar as pessoas do que pode ser alcançado na vida real e o que não passa de um padrão inacessível, até mesmo para influencers e famosos, usuários assíduos das ferramentas de edição e simulação virtual.
A busca por procedimentos não invasivos e até cirúrgicos para se assemelhar às imagens criadas por inteligência artificial e filtros de redes sociais vem aumentando a cada dia. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostra que nos últimos dez anos houve um aumento de 141% nos procedimentos em jovens de 13 a 18 anos, público bastante familiarizado com as redes sociais, e que há algumas décadas, raramente realizava procedimentos estéticos e cirúrgicos.
A ideia dos procedimentos faciais que realizamos em consultórios não é, de maneira alguma, criar a perfeição apresentada pelos filtros. A pele, por exemplo, precisa ter textura de pele. A harmonização orofacial surgiu para proporcionar melhoras em pequenas assimetrias, driblar efeitos da idade e deixar o rosto mais harmônico, tudo isso dentro de proporções já existentes no nosso rosto. O objetivo é ressaltar essa beleza, e não padronizá-la.
Cada vez mais se torna papel do profissional, tanto da área da saúde quanto da beleza, orientar e conscientizar os pacientes do que é possível de ser alcançado. Todo procedimento deve ser realizado considerando que cada pessoa possui uma beleza única e própria, e é essa que deve ser valorizada e levada em consideração na hora de se traçar um objetivo a ser alcançado.
*Luise Albuquerque (@dra.luisealbuquerque) é dentista e especialista em harmonização orofacial